Delineamento Experimental
Ano 0
Em 2017/18 realizaram-se em Elvas e Beja dois ensaios com 13 variedades de trigo duro de diversas origens. Estes ensaios serviram para caracterizar as variedades e selecionar as que continuariam em estudo.
Ano 1, Ano 2 e Ano 3
Em 2018/19, 2019/20 e 2020/21 realizaram-se ensaios nos campos experimentais do INIAV-Elvas e do IP. BEJA/ESA com 8 variedades e 5 modalidades de fertilização. O estudo realizado com vários anos permite dar maior robustez aos resultados.
Variedades Utilizadas
Utilizaram-se variedades de diferentes origens para garantir variabilidade nas suas características.
- Portuguesas
- Celta
Fado
Vadio
- Espanholas
- Trimulato
Sculptur
- Francesas
- Anvergur
Sculptur
- Italiana
- Claudio
Celta
Fado
Vadio
Trimulato
Don Ricardo
Anvengur
Sculptur
Claudio
Tratamentos de Fertilização Utilizados
Utilizou-se um tratamento T0 sem aplicação de fertilizantes e quatro tratamentos (T1 a T4) onde se aplicaram 150 UN/ha distribuídos em função das fases fenológicas do trigo.
Avaliações Realizadas
– Fases Fenológicas
– Ciclo
– Duração do Enchimento do Grão
– Curvas de Senescência
– Componentes do Rendimento
– Produção
– Biomassa à Maturação
– Altura das Plantas à Maturação
– Índice de Colheita
– Identificação das doenças e pragas
– Proteína
– Glúten Húmido e Seco
– Índice de Glúten
– Cinzas
– Vitreosidade
– Massa do Hectolitro
– Cor do Grão
– Índice de Queda
– Perfil de Minerais nos Grãos e nas Cinzas
Itinerário de Campo
Ano 1
2018/19 em Elvas e Beja com 120 linhas
- Usaram-se ensaios com blocos casualizados de 9,6 m2 e 3 repetições.
- Esquema de Campo dos Ensaios:
- O itinerário técnico foi:
Local | ELVAS | BEJA |
---|---|---|
Data sementeira | 02/01/19 | 27/12/18 |
Densidade sementeira | 400 grãos/m2 | 400 grãos/m2 |
Adubação fracionada* | Total 150 UN/ha (fracionamento em função das fases fenológicas) | Total 150 UN/ha (fracionamento em função das fases fenológicas) |
Fundo | 20-07-10 (à sementeira) + 0-20-17 (para uniformizar P e K nos diferentes tratamentos) | 20-07-10 (à sementeira) + 0-20-17 (para uniformizar P e K nos diferentes tratamentos) |
Cobertura | Ureia 46 % (afilhamento) + Nitrolusal 27% (restantes fases) | Ureia 46 % (afilhamento) + Nitrolusal 27% (restantes fases) |
Herbicida Pré-emergência | 04/01/19 Trigonil (3 l/ha) + Roundup (2 l/ha) | – |
Herbicida Pós-emergência | 11/03/19 Broadway (275 g/ha) + Genapol (1 l/ha) | 27/02/19 Axial 60 Ec (0,8 l/ha) + Granstar 50Sx (30 g/ha) |
Fungicida | 19/03/19 Prosaro (1 l/ha) | 28/03/19 Comrade (1 l/ha) |
Debulha | 13/06/19 | 09/07/19 |
Ano 2
2019/20 em Elvas e Beja com 120 linhas
- O esquema de campo foi o mesmo e o itinerário técnico foi:
Local | ELVAS | BEJA |
---|---|---|
Data sementeira | 18/11/19 | 13/12/19 |
Densidade sementeira | 400 grãos/m2 | 400 grãos/m2 |
Adubação fracionada* | Total 150 UN/ha (fracionamento em função das fases fenológicas) | Total 150 UN/ha (fracionamento em função das fases fenológicas) |
Fundo | 17-10-05 (à sementeira) + 0-20-17 (para uniformizar P e K nos diferentes tratamentos) | 17-10-05 (à sementeira) + 0-20-17 (para uniformizar P e K nos diferentes tratamentos) |
Cobertura | Ureia 46 % (afilhamento) + Nitrolusal 27% (restantes fases) | Ureia 46 % (afilhamento) + Nitrolusal 27% (restantes fases) |
Herbicida Pré-emergência | 18/12/19 Glifosato (2 l/ha) + Trigonil (2,5 l/ha) | – |
Herbicida Pós-emergência | 13/02/20 Broadway star (265 g/ha) + Genapol (0,5 l/ha) | 30/01/20 Axial Pro (0,7 l/ha) + Biathlon Extra (70 g/ha) + Trend 90 (0,1 l/ha) |
Fungicida | 19/03/20 Prosaro (1 l/ha) | 30/01/20 Comrade (0,9 l/ha) |
Debulha | 23/06/20 | 06/07/20 |
Ano 3
2020/21 em Elvas e Beja com 120 linhas
- O esquema de campo foi o mesmo e o itinerário técnico foi:
Local | ELVAS | BEJA |
---|---|---|
Data sementeira | 15/01/21 | 26/12/20 |
Densidade sementeira | 400 grãos/m2 | 400 grãos/m2 |
Adubação fracionada* | Total 150 UN/ha (fracionamento em função das fases fenológicas) | Total 150 UN/ha (fracionamento em função das fases fenológicas) |
Fundo | 20-08-10 (à sementeira) + 0-20-17 (para uniformizar P e K nos diferentes tratamentos) | 20-08-10 (à sementeira) + 0-20-17 (para uniformizar P e K nos diferentes tratamentos) |
Cobertura | Ureia 46 % (afilhamento) + Nitrolusal 27% (restantes fases) | Ureia 46 % (afilhamento) + Nitrolusal 27% (restantes fases) |
Herbicida Pré-emergência | – | 27/12/20 Glyphosan (6 l/ha) |
Herbicida Pós-emergência | 05/03/21 Atlantis (400 g/ha) | 18/02/21 Biathlon Extra (70g /ha) |
Fungicida | 19/03/20 Prosaro (1 l/ha) | 30/01/20 Trunfo (1 l/ha) |
Debulha | 28/06/21 | 29/07/21 |
Ano 1
2018/19
ELVAS
BEJA
Ano 2
2019/20
ELVAS
BEJA
Ano 3
2029/21
ELVAS
BEJA
Um dos principais problemas da produção agrícola de trigo na região mediterrânea é a irregularidade interanual ao nível da produção, que é fortemente condicionada pela instabilidade climática e pelos episódios de stresses de duração, frequência e intensidade variáveis. E foi exatamente o que aconteceu nestes três anos verdadeiramente contrastantes!
2018/19 – Elvas e Beja
Figura 1. Temperaturas e precipitação registadas em Elvas em 2018/19. Indica-se o intervalo em que ocorreu o início das fases fenológicas para o conjunto de variedades estudadas.
Figura 2. Temperaturas e precipitação registadas em Beja em 2018/19. Indica-se o intervalo em que ocorreu o início das fases fenológicas para o conjunto de variedades estudadas.
O ano agrícola 2018/19 foi um ano extremamente seco com temperaturas altas na primavera.
Em Elvas apenas ocorreram 130 mm de precipitação desde a sementeira (janeiro) até ao final do ciclo da cultura (junho), distribuídos irregularmente. Foi necessário recorrer a regas de apoio antes do encanamento.
Em março registaram-se 23 dias de temperaturas elevadas, com temperaturas máximas superiores a 20-25°C, o que contribuiu para acelerar o desenvolvimento vegetativo do trigo. Durante a fase do enchimento do grão, verificaram-se 17 dias com temperaturas máximas iguais ou superiores a 30°C, penalizantes para o correto desenvolvimento do grão.
Em Beja a situação foi idêntica, com uma precipitação total entre dezembro e junho de 168 mm distribuída de forma irregular. Recorreram-se a regas de apoio no inverno e primavera. As temperaturas foram ainda mais elevadas e distribuídas ao longo de toda a fase de enchimento do grão que em Elvas: 35 dias de temperaturas máximas acima de 25°C dos quais 18 dias tiveram temperaturas máximas acima dos 30°C.
2019/20 – Elvas e Beja
Figura 3. Temperaturas e precipitação registadas em Elvas em 2019/20. Indica-se o intervalo em que ocorreu o início das fases fenológicas para o conjunto de variedades do projeto.
Figura 4. Temperaturas e precipitação registadas em Beja em 2019/20. Indica-se o intervalo em que ocorreu o início das fases fenológicas para o conjunto de variedades estudadas.
O ano agrícola 2019/20 foi um ano bastante contrastante em relação ao anterior, com precipitação durante todo o ciclo da cultura e uma primavera amena.
Em Elvas ocorreu um total de 420 mm de precipitação, de grande incidência na primavera, pelo que apenas se realizaram duas regas de apoio. As temperaturas primaveris foram amenas com temperaturas máximas acima de 25ºC concentradas no final de maio, o que beneficiou o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das plantas, bem como o enchimento do grão.
Em Beja a situação foi idêntica, com uma precipitação total de 317 mm entre dezembro e junho, distribuída de forma irregular, pelo que se realizaram algumas regas suplementares em alturas chave do desenvolvimento das plantas. O período primaveril foi ameno: com 25 dias de temperaturas máximas acima de 25°C, dos quais 14 dias foram acima dos 30°C concentrados nos últimos dias do período de enchimento do grão.
2020/21 – Elvas e Beja
Figura 5. Temperaturas e precipitação registadas em Elvas em 2020/21. Indica-se o intervalo em que ocorreu o início das fases fenológicas para o conjunto de variedades do projeto.
Figura 6. Temperaturas e precipitação registadas em Beja em 2020/21. Indica-se o intervalo em que ocorreu o início das fases fenológicas para o conjunto de variedades do projeto.
O ano agrícola 2020/21 foi um ano menos chuvoso, mas com uma primavera amena.
Em Elvas ocorreu um total de 298 mm de precipitação desde a sementeira até ao final do ciclo da cultura, com maior incidência em janeiro, fevereiro e abril. Apenas se realizaram duas regas de apoio. As temperaturas primaveris foram amenas: ocorreu 1 dia acima de 25ºC em março, 3 em abril, 19 dias em maio (apenas 6 dias acima de 30ºC no final do mês) o que beneficiou o desenvolvimento das plantas e o enchimento do grão.
Em Beja ocorreu um total de 260 mm de precipitação desde a sementeira até ao final do ciclo da cultura, com ausência durante os meses de março e abril. Realizaram-se várias regas de apoio, a fim de garantir o normal desenvolvimento das plantas. O período primaveril foi ameno com temperaturas máximas acima dos 25ºC apenas em maio durante 21 dias, dos quais apenas 6 foram acima de 30ºC, concentrando-se no final do mês.
Um dos principais problemas da produção agrícola de trigo na região mediterrânea é a irregularidade interanual ao nível da produção, que é fortemente condicionada pela instabilidade climática e pelos episódios de stresses de duração, frequência e intensidade variáveis. E foi exatamente o que aconteceu nestes três anos verdadeiramente contrastantes!
2018/19 foi um ano extremamente seco com temperaturas altas na primavera. Interferiu no normal desenvolvimento das plantas, acelerando o seu ciclo e em particular o período de enchimento do grão. Teve principalmente consequências ao nível dos vários componentes do rendimento, afetando em menor grau a qualidade do grão.
Tabela 1: Valores médios de duração do período de enchimento do grão e do ciclo das variedades estudadas nos ensaios de 2018/19.
LOCAL | Elvas | Elvas | Beja | Beja |
---|---|---|---|---|
Variedade | Enchim. grão (dias) | Ciclo (dias) | Enchim. grão (dias) | Ciclo (dias) |
Celta | 38 | 141 | 36 | 156 |
Fado | 38 | 141 | 37 | 158 |
Vadio | 39 | 142 | 33 | 159 |
Don Ricardo | 36 | 139 | 38 | 158 |
Trimulato | 34 | 140 | 41 | 164 |
Anvergur | 34 | 144 | 36 | 163 |
Sculptur | 38 | 148 | 34 | 162 |
Claudio | 33 | 143 | 37 | 164 |
Média | 36 | 142 | 36 | 160 |
2019/20 teve uma primavera amena e ocorrência de precipitação bastante distribuída. Provocou um alargamento do ciclo das variedades, em particular do período de enchimento do grão. Foi muito benéfico para os componentes do rendimento do grão tanto ao nível do nº de grãos/m2 como ao nível do peso do grão já que a não ocorrência de stresse hídrico e térmico nesta fase permite uma correta acumulação de amido e proteínas no grão.
Tabela 2: Valores médios de duração do período de enchimento do grão e do ciclo das variedades estudadas nos ensaios de 2019/20.
LOCAL | Elvas | Elvas | Beja | Beja |
---|---|---|---|---|
Variedade | Enchim. grão (dias) | Ciclo (dias) | Enchim. grão (dias) | Ciclo (dias) |
Celta | 54 | 183 | 51 | 163 |
Fado | 54 | 185 | 52 | 166 |
Vadio | 55 | 186 | 51 | 167 |
Don Ricardo | 60 | 187 | 50 | 164 |
Trimulato | 54 | 186 | 45 | 169 |
Anvergur | 46 | 194 | 46 | 172 |
Sculptur | 43 | 197 | 45 | 171 |
Claudio | 54 | 185 | 52 | 169 |
Média | 52 | 188 | 49 | 168 |
2020/21 possuiu uma primavera amena, menos chuvosa. As datas de sementeira foram mais tardias porque as chuvas outonais não permitiram antecipar esta etapa. Os trigos não beneficiaram tanto das condições meteorológicas amenas durante a primavera como no ano anterior, sendo a duração do enchimento do grão intermédia relativamente aos dois anos anteriores.
Tabela 3: Valores médios de duração do período de enchimento do grão e do ciclo das variedades estudadas nos ensaios de 2020/21.
LOCAL | Elvas | Elvas | Beja | Beja |
---|---|---|---|---|
Variedade | Enchim. grão (dias) | Ciclo (dias) | Enchim. grão (dias) | Ciclo (dias) |
Celta | 42 | 138 | 43 | 150 |
Fado | 45 | 141 | 49 | 158 |
Vadio | 47 | 143 | 49 | 159 |
Don Ricardo | 45 | 141 | 45 | 154 |
Trimulato | 47 | 143 | 50 | 160 |
Anvergur | 42 | 145 | 49 | 165 |
Sculptur | 42 | 145 | 45 | 161 |
Claudio | 45 | 141 | 46 | 156 |
Média | 44 | 142 | 47 | 158 |
Os componentes do rendimento dos trigos são fortemente afetados pelas condições climáticas que ocorrem durante o seu desenvolvimento. São prova disso os resultados obtidos nos três anos agrícolas analisados no projeto, com resultados muito diferentes entre si e entre locais. Na tabela 1 resumem-se os resultados obtidos para os seis ensaios realizados (3 anos e 2 locais).
Dentro de cada ensaio, a variedade foi o fator que de um modo geral mais afetou os componentes de produção e o próprio rendimento, mas o tratamento de fertilização (momento de aplicação de azoto) também influenciou estes parâmetros, com maior destaque nos ensaios de Beja.
Tabela 1: Resultados da Análise de Variância aos parâmetros rendimento analisados nas amostras dos ensaios de Elvas e Beja em 2018/19, 2019/20 e 2020/21.
Em 2018/19 os valores de produção foram maiores em Beja como consequência do alongamento dos ciclos e da maior disponibilidade de água de precipitação e de rega neste local, que permitiram realizar regas de apoio tanto de inverno como de primavera. Fizeram toda a diferença!
As variedades Anvergur e Celta foram as mais produtivas nos dois ensaios (Figura 1).
Figura 1: Produção de grão reportada a 12% de humidade em função das variedades de trigo nos ensaios de Elvas e Beja de 2018/19. Variedades ordenadas por ordem decrescente de valor de produção para o ensaio de Beja.
Em 2019/20 os valores de produção foram claramente superiores ao ano anterior, pois, para além do peso do grão, os restantes componentes da produção que afetam o número de grãos/m2, também beneficiaram das condições meteorológicas ocorridas durante a primavera (temperaturas amenas e precipitação bem distribuída). Os valores de produção foram superiores em Elvas pois ocorreu um alongamento de ciclo neste ensaio devido à data de sementeira mais precoce.
A variedade Anvergur destacou-se por ser a mais produtiva em Elvas e, conjuntamente com Sculptur e Celta as mais produtivas em Beja (Figura 2).
Figura 2: Produção de grão reportada a 12% de humidade em função das variedades de trigo mole nos ensaios de Elvas e Beja de 2019/20. Variedades ordenadas por ordem decrescente para o ensaio de Beja.
Em 2020/21 os valores de produção foram inferiores aos de 2019/20, pois os componentes da produção apesar de beneficiaram das condições meteorológicas amenas ocorridas durante a primavera, foram prejudicados pela sementeira tardia, principalmente em Elvas, impossibilitada de realizar antes devido às chuvas outonais (26 de dezembro em Beja e 15 de janeiro em Elvas).
A precipitação mais abundante e algumas regas de apoio com incidência na primavera terão, no entanto, contribuído para minimizar o encurtamento do período de enchimento do grão, que apresentou valores intermédios entre os de 2018/19 e os de 2019/20.
As variedades não apresentaram grandes diferenças nos valores de produção, com Celta como a mais produtiva nos dois locais (Figura 3) conjuntamente com Anvergur em Beja e Fado em Elvas. Já o tratamento de adubação foi o fator que mais influenciou a produção nos dois locais (Tabela 1).
Figura 3: Produção de grão reportada a 12% de humidade em função das variedades de trigo mole nos ensaios de Elvas e Beja de 2020/21. Variedades ordenadas por ordem decrescente para o ensaio de Beja.
Em 2020/21 foram selecionadas três variedades que se destacaram em termos de produção e qualidade e foram semeadas nos campos de três agricultores (scale-up).
Os ensaios foram acompanhados pela equipa técnica do projeto (ANPOC e Cersul) e o parceiro COTR foi responsável pela instalação de sondas para monitorização e gestão da rega.
Estes sistemas baseiam-se na medição da constante dielétrica do complexo solo-água-ar, e com base em curvas de calibração expressam o teor de humidade no solo. Permitem uma visualização da informação em tempo real, com várias escalas temporais, com o acompanhamento de toda a dinâmica da água no solo.
Permitem efetuar recomendações da melhor estratégia de rega a adotar em função de características dos solos, sistema de rega, estados fenológicos da cultura, visando o aumento da eficiência da água aplicada, maximizando a componente quantidade/qualidade da produção.
Agricultor 1: Monforte com as variedades Fado e Vadio
Agricultor 2: Avis com a variedade Don Ricardo
Agricultor 3: Elvas com a variedade Don Ricardo
De acordo com os gráficos de monitorização da água no solo, em todas as parcelas monitorizadas as dotações de rega aplicadas humedeceram o perfil do solo até aos 30/40 cm, não existindo perdas de água por drenagem.
O armazenamento de água no solo permaneceu dentro dos limites ótimos para a gestão da rega, indicando que a cultura esteve sempre em conforto hídrico. Numa apreciação global, verificou-se que a rega nunca foi um fator limitante para o desenvolvimento da cultura.
Assim, podemos afirmar que a estratégia de rega adotada e, tendo em consideração a precipitação ocorrida ao longo do ciclo, otimizou a água aplicada, nunca sendo um fator limitante para o potencial máximo produtivo destas parcelas.
A qualidade do trigo-duro para o fabrico de sêmolas e massas alimentícias é, tendencialmente, favorecida pelo clima moderadamente seco, com temperaturas e número de horas de sol elevadas durante o período de enchimento do grão, típico do sul de Portugal. O trigo-duro é assim uma cultura bem-adaptada ao nosso clima, muito resiliente, com enorme importância na dieta mediterrânica, pela sua versatilidade e valor nutricional.
Os parâmetros de qualidade mais afetados pelas condições meteorológicas que ocorrem durante o desenvolvimento do grão são ao que condicionam o rendimento em sêmolas: peso do hectolitro, o teor em cinzas e a vitreosidade.
Já o potencial tecnológico, que depende da fração proteica (teor e composição), influencia a viscoelasticidade da massa crua e qualidade culinária. É normalmente muito bom nas variedades utilizadas a nível nacional.
Na Tabela 1 resume-se a análise de variância realizada aos parâmetros associados ao rendimento em sêmolas, que são os mais problemáticos no nosso ambiente. Verificou-se que todos eles foram afetados pela variedade e pelo tratamento de fertilização (momento de aplicação de azoto), nos três anos agrícolas estudados.
Também se verificou que as variedades não se comportaram todas da mesma forma quando sujeitas a diferentes tratamentos de fertilização (interação Var x Trat significativa) no que diz respeito à vitreosidade.
Estes resultados demonstram a importância de escolher corretamente as variedades e o itinerário técnico.
Tabela 1: Resultados da Análise de Variância a alguns parâmetros de qualidade analisados nas amostras dos ensaios de Elvas e Beja em 2018/19, 2019/20 e 2020/21.
Em 2018/19 as variedades apresentaram bons resultados para os parâmetros analisados (Tabela 2). Apenas as variedades Anvergur, Claudio e Sculptur obtiveram valores de vitreosidade ligeiramente reduzidos no ensaio de Beja.
Em Beja verificou-se que o tratamento de fertilização T0 (sem fertilização) foi o que originou grãos menos vítreos e com menor teor proteico (dados não apresentados) e maior teor de cinzas (acima da especificação da indústria 1,9 %).
Tabela 2: Valores médios dos parâmetros de qualidade relacionados com o rendimento em sêmolas, para as variedades e tratamentos testados nos ensaios de Elvas e Beja de 2018/19.
Em 2019/20 (Tabela 3) todas as variedades apresentaram bons pesos de hectolitro e, todas, exceto Claudio e Sculptur, apresentaram bons valores de vitreosidade. Estas duas variedades mostraram-se suscetíveis à perda desta característica, em condições ambientais propensas a esta ocorrência.
As cinzas foram elevadas nos dois locais, ultrapassando o valor especificado pela indústria em quase todas as variedades do ensaio de Beja e, nas variedades Celta, Fado e Sculptur em Elvas. As diferenças entre variedades apenas foram significativas no ensaio de Beja, onde as variedades de ciclo mais longo Sculptur, Anvergur e Claudio tiveram menores teores de cinzas (as duas primeiras já tinha apresentado menores teores no mesmo ensaio do ano anterior).
Todos os tratamentos de fertilização originaram teores de cinzas acima de 1,9 %, com exceção do T0 e T1 no ensaio de Elvas.
Tabela 3: Valores médios dos parâmetros de qualidade relacionados com o rendimento em sêmolas, para as variedades e tratamentos testados nos ensaios de Elvas e Beja de 2019/20.
Em 2020/21 (Tabela 4) todas as variedades, exceto o Anvergur e o Sculptur em Elvas apresentaram bons pesos de hectolitro. Estas duas variedades possuem ciclos mais longos e por isso foram prejudicadas pela data de sementeira tardia. A qualidade foi superior em Elvas pois a vitreosidade foi muito reduzida em Beja, derivada de precipitação e regas mais tardias.
Já os teores de cinzas foram mais elevados em Elvas, ultrapassando o limite especificado pela indústria nas variedades Sculptur e Anvergur, possivelmente devido ao deficiente enchimento do grão destas variedades de ciclo mais longo. As variedades Celta e Trimulto foram as que tiveram menores teores de cinzas neste ensaio. Contrariamente, em Beja, a variedade Anvergur teve o menor teor de cinzas (tal como aconteceu no mesmo ensaio nos dois anos anteriores).
Tabela 4: Valores médios dos parâmetros de qualidade relacionados com o rendimento em sêmolas, para as variedades e tratamentos testados nos ensaios de Elvas e Beja de 2020/21.